terça-feira, 11 de setembro de 2012

Recordar Antero


Passam hoje 121 anos sobre a morte de Antero de Quental (1842- 1891).
O dia 11 de setembro é dia de muitas efemérides mas, nem por isso poderia deixar de trazer à memória este português, poeta, político e pensador, que nasceu nos Açores e nos Açores pôs fim à sua vida.
“Esperança” é a palavra, esculpida em pedra, numa parede do Convento com o mesmo nome, sob a qual, sentado num banco de jardim deu por finda à sua vida.
A esperança não desapareceu com Antero, os amantes da liberdade mantêm-na viva, a esperança e a utopia.


REDENÇÃO

Vozes do mar, das árvores, do vento! 
Quando às vezes, n'um sonho doloroso, 
Me embala o vosso canto poderoso, 
Eu julgo igual ao meu vosso tormento... 

Verbo crepuscular e íntimo alento 
Das cousas mudas; psalmo misterioso; 
Não serás tu, queixume vaporoso, 
O suspiro do mundo e o seu lamento? 

Um espírito habita a imensidade: 
Uma ânsia cruel de liberdade 
Agita e abala as formas fugitivas. 

E eu compreendo a vossa língua estranha, 
Vozes do mar, da selva, da montanha... 
Almas irmãs da minha, almas cativas! 

II 

Não choreis, ventos, árvores e mares, 
Coro antigo de vozes rumorosas, 
Das vozes primitivas, dolorosas 
Como um pranto de larvas tumulares... 

Da sombra das visões crepusculares 
Rompendo, um dia, surgireis radiosas 
D'esse sonho e essas ânsias afrontosas, 
Que exprimem vossas queixas singulares... 

Almas no limbo ainda da existência, 
Acordareis um dia na Consciência, 
E pairando, já puro pensamento, 

Vereis as Formas, filhas da Ilusão, 
Cair desfeitas, como um sonho vão... 
E acabará por fim vosso tormento. 

Antero de Quental, in "Sonetos"

Sem comentários:

Enviar um comentário